Inygon tem estado debaixo de fogo no seio da comunidade de esports em Portugal. A entidade responsável pela organização das principais competições de VALORANTLeague of Legends no cenário nacional, a LPLOL e o VALORANT Challengers Portugal: Tempest, tem sido fortemente criticada por vários elementos das comunidades destes dois jogos que se queixam de falta de pagamento dos prémios relativos às competições.

O antigo manager da GTZ, nameeeeeek, recorreu ao Twitter para informar que vai seguir pelos trâmites legais. “Já lá vão 169 dias desde a VCE Cup T2 organizada pela Inygon, ou seja, já passaram mais de 90 dias desde a emissão da fatura para pagamento do prémio de segundo lugar e até agora nada. A minha advogada irá falar com vocês, escreveu.

O problema atinge também organizações, como é o caso da FTW. Fonte próxima à situação contou ao FRAGlíder que “foi dada a indicação que em Outubro seria liquidado e não foi. Depois seria em Novembro e não foi”. Para além de montantes já em dívida, ter-se-ão acrescido ainda valores de prize pool no final do ano, o que motivou a organização a voltar a questionar a entidade responsável. Uma vez mais, os valores não foram liquidados: “Em janeiro foi dada a indicação de que seria liquidado no mês seguinte e não foi”.

Com faturas pendentes de liquidação e que se encontram nos cinco dígitos, a FTW queixa-se ainda de não ter existido “qualquer tipo de resposta ao email por parte da Inygon” e indica ser do seu entender que “não tem de entrar em contacto de forma sistemática para o mesmo tema, pois entende-se que é dever da Inygon ser diligente junto dos clubes, os quais têm de cumprir de forma criteriosa os regulamentos de forma regular, e semanal em muitos casos, sob pena de sanções”.

Inygon diz estar empenhada em resolver o problema até junho

Contactado pelo FRAGlíder, o co-fundador da InygonJoão Cício Carvalho, confirmou que a empresa tem prémios por liquidar referentes à segunda metade de 2022 e posterior. No entanto, o responsável da entidade diz que “todas as equipas estão a par da situação e do nosso esforço para a resolver”, acrescentando ainda que estão empenhados em efetuar os respetivos pagamentos até ao final do semestre em curso.

“Esta situação deve-se à atual crise econômica em que estamos imersos, que não deve ser subestimada”, explicou Carvalho. “Embora muitos possam já ter esquecido, as empresas foram duramente afetadas pelos impactos da pandemia e agora enfrentam uma nova crise, originada pela guerra e pela inflação. Em tempos de incerteza financeira, gerir a liquidez de uma empresa pode ser um desafio significativo”, acrescentou.

O responsável da Inygon procurou ainda esclarecer um pouco do processo: “O processo de patrocínio e pagamento de competições não é tão simples quanto alguns podem pensar. Muitas empresas fecham os seus anos fiscais em março, o que significa que só após abril, é que os processos de pagamento começam a ser iniciados, alguns com mais de 90 dias de espera. Portanto, é necessário uma gestão cuidadosa para trabalhar com competições desde o início do ano. É por isso que, em geral, não há muitas competições no primeiro trimestre em Portugal, e a Inygon é uma rara exceção”.

Na mesma nota, João Cício Carvalho disse que “a Inygon manteve-se firme e enfrentou os desafios que surgiram ao longo dos anos, testemunhando o crescimento da LPLOL e a criação da Tempest no Valorant. Para impulsionar a comunidade e as equipas, aumentámos os prémios em dinheiro das nossas competições. Essa estratégia foi definida em conjunto com as equipas participantes, que preferem ter prémios mais generosos, mesmo que isso implique receber um pouco mais tarde do que o esperado”É importante esclarecer que as premiações da LPLOL e da VCL não são oferecidas pela Riot Games, mas sim integralmente suportadas pela empresa, juntamente com os custos da equipa de trabalho dos campeonatos, disse ainda.

Ainda em relação às premiações, Carvalho explicou que a relação financeira da Inygon é feita diretamente com as organizações: “De um modo geral, a Inygon tem uma relação financeira direta com as equipas e, em raras ocasiões, com os jogadores. Em caso de incumprimento por parte das equipas no pagamento de prémios aos seus jogadores, a Inygon assume uma posição em prol da defesa dos direitos dos jogadores, procurando sempre garantir a regularização da situação. É nossa convicção que todas as equipas devem cumprir com as suas obrigações financeiras perante os seus jogadores, independentemente de terem valores a receber ou não. Infelizmente, essa situação é muitas vezes explorada indevidamente, como foi apresentado em várias ocasiões, e a Inygon intervém sempre que é notificada. Existem canais adequados para resolver este tipo de problemas e estamos sempre abertos ao diálogo e à partilha de informação, a que temos ao nosso dispor, para que nunca haja lesados nas nossas provas”.

Fazendo alusão ao facto de a Inygon enfrentar “as dificuldades normais de uma pequena e média empresa”, João Cício Carvalho ressalvou que a Inygon nunca se recusou ou complicou o processo de pagamento das suas provase que “desde 2015, a Inygon já atribuiu mais de 350 mil euros em prémios nas suas competições nacionais, sem contar com as internacionais. Em Portugal, não há nenhuma outra empresa com um histórico tão elevado de investimento no ecossistema dos desportos eletrónicos nacionais”“Para além disso, estabelecemos práticas que visam garantir que todas as equipas e jogadores envolvidos nas nossas competições recebem os seus prémios de forma pronta e justa. Por exemplo, só solicitamos faturas às equipas quando os processos de pagamento estão prestes a ser efetuados, a fim de evitar prejuízos nas suas contabilidades, mesmo em detrimento da nossa. Em situações em que as equipas enviam faturas fora do prazo ou quando ocorrem erros e complicações externas que impedem os pagamentos, a Inygon sempre facilitou os processos para garantir que, no final, todos os envolvidos recebam os seus prémios”, acrescentou.

“Embora a Inygon não seja uma empresa perfeita, está entre as empresas que mais se esforçam para impulsionar o mercado e o seu crescimento. No entanto, é importante lembrar que enfrentamos muitas dificuldades no atual cenário económico, especialmente num país menos rico como Portugal. Apesar disso, todos os nossos parceiros estão cientes da situação e consideramos que reclamações em redes sociais só prejudicam a imagem do nosso mercado, que ainda precisa de crescer para se tornar uma indústria rentável e saudável. Continuamos determinados no nosso objetivo de desenvolver o mercado nacional e de proporcionar oportunidades para jogadores e outros profissionais perseguirem as suas ambições nesta indústria”, afirmou.

A terminar, João Cício Carvalho procurou descansar os lesados: Não vamos fugir às nossas responsabilidades, nem deixar prémios por pagar. Vamos continuar a fazer o nosso trabalho para que os esports em Portugal possam continuar a crescer.