Com o objetivo de perceber o ponto de vista das organizações de eSports em Portugal em relação à recente atividade de clubes de desportos tradicionais no que toca ao mercado dos videojogos, fomos ao encontro de dois CEO’s de duas das maiores organizações de eSports em Portugal. Para melhor facilitar a passagem de informação, nenum dos entrevistados será revelado.


Organizações vs Clubes: um bem esperado ou um mal inevitável?
 

Organizações vs Clubes: um bem esperado?

Tem-se intensificado, no último ano, o interesse de clubes de desportos tradicionais no mundo dos eSports. Se fora de Portugal já vemos vários clubes com grandes investimentos, seja PSG, Schalke04, Besiktas entre vários outros, dentro de portas, apesar de bem mais tímido, o interesse tem aparecido. O Sporting CP foi quem mais se destacou neste mercado nacional em relação aos outros clubes, porém tímidas aparições foram surgindo, seja do Farense, do Estoril, entre outros. A verdade é que estas organizações, bem habituadas ao estilo do mercado devido às suas parecências com o mercado do desporto tradicional, podem trazer várias coisas positivas aos eSports.

"As organizações nacionais, a maioria, gerem-se para uma comunidade, para equipas, para jogadores, na vertente mais competitiva. E é essa vertente que tem de gerar algo para a organização, seja através de sponsors, algo a nível financeiro, de modo a que essas organizações possam sobreviver.” Tal como referido pelos entrevistados, atualmente em Portugal possuímos um pequeníssimo número de organizações autossustentáveis. "Existem três, quatro organizações que o são devido aos jogadores que têm, às equipas que possuem, à atenção que atraem por parte dos espetadores." E é exatamente aqui que a entrada de clubes pode influenciar o crescimento dos eSports.

Parece evidente que, para além de pessoal muito mais especializado do que o que possuímos atualmente no ecossistema do eSports, a notoriedade destes clubes poderá catapultar o crescimento do mercado. "Tendo em conta a notoriedade que possuem no panorama nacional, seja nos mass media, seja no próprio desporto que apostam mais, conseguiriam rapidamente angariar outro tipo de apoios que será difícil para organizações tradicionais de eSports… iriam atrair empresas que não estão ligadas aos eSports e claramente levaria ao crescimento da comunidade de eSports a nível nacional."


Várias marcas não endémicas vêm apostando nos eSports, com a introdução de clubes, esta aposta pode ser ainda maior.

Porém, nem tudo é um mar de rosas. O crescimento que estas organizações podem trazer parece evidente contudo a capacidade para o fazer não é tão clara. Parece inequívoco que grande parte dos clubes que tentaram entrar no mercado, pelo menos a nível nacional, não procuraram informação junto das pessoas certas, não se rodearam por essas mesmas pessoas, não procuraram entender o que estavam prestes a realizar. E é aí que as coisas podem ficar feias. A mentalidade com que os esses clubes procurarão entrar no mercado terá certamente relação proporcional com o seu sucesso. Tal como referido por um dos entrevistados "tudo depende da forma como esses clubes entrarem no mercado. Acho que se essa entrada for realizada de uma forma respeitadora, de progresso e desenvolvimento, julgo que teremos todos os ingredientes para um desenvolvimento a sério dos eSports e passaríamos a ter uma boa esfera profissional. Se for realizada num atropelar de ações e interações já não acredito que haja coisas positivas nesta entrada."

Em suma, parece evidente que as organizações se encontram dispostas a receber estes clubes no mercado, para o bem dos eSports, para o crescimento sustentável, para a interacção e a partilha de conhecimento. Contudo, parece existir um receio em relação à atitude com que os clubes poderão entrar neste mercado. Se esta entrada procurar apenas o lucro rápido, levará certamente a ações de atropelamento em relação às organizações já existentes, o que poderá terminar em prejuízos no crescimento do mercado.

E tu, qual é a tua opinião em relação a este tema?